domingo, 12 de janeiro de 2014

Um anime de pervertidos - Aku no hana (análise)

         ATENÇÃO: Essa é uma análise da primeira temporada de Aku no hana (anime). Algumas imagens e frases podem ser consideradas spoiler. Você foi avisado

       Quando comecei a assistir Aku no hana, o fiz pela sinopse que achei interessante e por alguns comentários que li sobre o mangá. Kasuga é um jovem adolescente atormentado e fã do escritor Baudelaire (de onde vem o nome do anime: Aku no hana, ou traduzindo, As flores do mal). O garoto nutre uma paixão platônica por sua colega de classe, Saeki-san e, um dia, após a aula, acaba furtando a roupa de ginástica dela.  
       O que Kasuga não esperava é que Nakamura-san, uma outra menina que estuda em sua sala, tivesse visto o furto. Nakamura-san o obriga a fazer o que ela quer, sob pena de ter seu segredo revelado. É importante ressaltar que, na cultura japonesa, a roupa de ginástica é algo tão intimo e pessoal como uma roupa intima ou uma roupa de banho, razão pela qual as pessoas acham que o crime foi cometido por algum tarado (o que não está muito longe da verdade)
        A história parece bobinha mas, como eu disse acima, li comentários de que o mangá era super sombrio e com uma abordagem dramática e psicológica sobre o tema. Então lá fui eu assistir. 
      O que não esperava é essa porcaria de imagem chamada técnica rotoscópicas. Pra quem não sabe (eu não sabia) é quando se grava imagens com pessoas reais e se desenha em cima. Não sei se é um ônus da técnica ou se isso foi devido a uma mal aplicação da mesma, o fato é que o resultado final foi, no minimo, bizarro

Nakamura-san em cena no anime.
     Resultado: Assisti dois episódios e parei. Não é que a história não estivesse sendo interessante mas a primeira impressão que tive com esse anime pode ser resumida com a palavra "desconforto". A arte era desconfortável, a direção das câmeras, os diálogos, as músicas, a idiotice do personagem principal (Kasuga-kun)... Tudo contribuiu para que eu fosse viver minha vida e deixasse esse anime de lado. 
        Só retomei Aku no Hana nas férias, depois que li um blog 'especializado' em animes citado-o como um dos destaques da temporada, não devido a qualidade mas a polêmica em torno dele. Pensei comigo: Estou de férias, não tenho muito o que fazer... Porque não terminar o anime? Afinal de contas, um dos meus animes favoritos foi considerado polêmico algumas temporadas atrás. 
        O que começou como uma curiosidade, o ócio fez com que se tornasse quase uma obsessão. Afinal, todo capitulo terminava com um arco para o próximo de modo que, em menos de uma semana, terminei toda a temporada de Aku no Hana.
      Sobre os personagens, não foi dessa vez que encontramos um protagonista masculino forte e inteligente. Kasuga-kun é um babaca, na melhor das hipóteses. Durante o anime ele é feito de gato e sapato pela personagem Nakamura-san e, em nenhum momento, sai desse circulo vicioso montado pela personagem. Kasuga só tem iniciativas desastrosas, como a primeira, que foi roubar o uniforme de ginástica de sua colega. No restante do tempo ele mal consegue conversar com a tal garota dos sonhos (Saeki-san). Kasuga está muito preso a seu ídolo, Baudelaire, razão pela qual grande parte de seus pensamentos são tão sombrios e auto depreciativos quanto os poemas desse autor e esse negativismo todo não me fez gostar mais dele.
       Já Saeki-san, em um primeiro momento, parece ser a tipica garota popular do colégio. As circunstâncias parecem tê-la feito se aproximar de Kasuga mas as atitudes dela são difíceis de entender. Por que uma garota popular e cheia de admiradores / amigos  parece tão dependente? Andei pesquisando e descobri que, no mangá, essa personagem demonstrou mais profundidade do que o esteriótipo deixa a ver. Mas no anime é tudo muito raso sobre Saeki-san - eu não a entendo, sinceramente.  

Saeki-san
        Nakamura-san já é o oposto mas também não a entendo. Uma rebelde completa, ela vê Kasuga como "o seu pervertido", a unica pessoa que parece tão entendiada e de saco cheio dessa cidade em que eles vivem quanto ela própria. Pelo pouco que vislumbrados de Nakamura nos episódios finais, dá pra perceber que por trás dessa mente desestruturada, há um lar um tanto desfuncional. Mas, novamente, não há muito sobre essa personagem, a não ser que ela adora ver o circo pegar fogo e que tem uma certa obsessão por Kasuga, pelo seu lado obscuro e sombrio. Como eu disse, não entendo entendo Nakamura-san, mas não deixo de achá-la uma personagem interessante. 
       
           Temos então os três personagens principais, nenhum dos quais eu gosto muito, confesso. Porque continuei assistindo? Devido a trama e ao triângulo amoroso complexo envolvendo esses três. 
      Não sei se a palavra 'amoroso' pode ser utilizada para esses o triângulo Kasuga-Nakamura-Saeki, no entanto. Me parece mais uma obsessão do que um amor em si. Por um lado vemos Kasuga, um garoto um tanto ingênuo que vê em Saeki-san sua musa, seu anjo. Ele diz a si mesmo que não quer um relacionamento físico com ela, mas pratica o roubo de sua roupa de ginástica, o que faz com que suas intenções já não soem tão puras assim. Quando Saeki-san se aproxima dele (por uma série de outros fatores), Kasuga dá a impressão de não saber o que fazer com todo o afeto da garota. Ele é distante com ela, demonstrando mais vergonha em sua presença do que qualquer outro sentimento. 
           Por outro lado, Nakamura-san é vista pelo personagem com horror e ojeriza. Ela é a unica que o vê como ele próprio se vê, como um pervertido, e ele teme que ela revele sua verdadeira natureza para todos. No entanto, com o tempo, ele acaba ficando dependente dessa personagem, a ponto de realizar coisas que normalmente não faria, apenas para conquistar sua aprovação. 


          Sindrome de estolcomo, alguns poderiam dizer, mas eu tenho a impressão de que Kasuga se apega a Nakamura-san porque, em algum momento, ele passa a querer ser aquilo que ela vê nele e não um garoto comum que ele é de fato. Kasuga quer ser um pervertido, ele quer ser diferente dos outros. Além disso, Nakamura-san é igual a ele, excluída pelos colegas, de forma que ele se sente muito mais próximo a ela do que a própria Saeki-san.
             É interessante notar que Nakamura tem uma postura dominante, que exerce tanto com Kasuga quanto com Saeki-san (em seus poucos diálogos). Já os outros dois personagens são submissos a ela, sendo Saeki-san submissa a Kasuga - o que pode ser a chave do problema, por que Kasuga não sabe o que fazer com essa submissão, sendo ele próprio de personalidade submissa - o que faz com Saeki-san se ressinta de Nakamura, por que ela consegue respostas de Kasuga, algo que ela própria não tem. 
          Esse paragrafo acima pode parecer meio BDSM, com esse papo de dominação e submissão, mas é por que é dessa forma que eu vejo os relacionamentos entre os personagens desse anime: Como um jogo de poder (embora nem sempre haja cunho sexual). 
            A tensão entre os personagens cresce e tem seu climax no penúltimo episódio, quando o triângulo amoroso parece alcançar um desfecho. Porém, como mostrado no ultimo episódio, essa história ainda tem muito pano pra manga. O final é super aberto e ilustra toda uma série de possibilidades para uma possível segunda temporada. Duvido muito que essa segunda temporada seja produzida (o anime foi um fracasso) e, mesmo que fosse, não sei se assistiria. As temáticas da segunda temporada me parecem muito mais fortes e polêmicas do que meras pichações e jogos de poder que aconteceram nessa primeira.


           Como o final mais sugeriu do que mostrou, não posso dizer que gostei de Aku no Hana. O que posso dizer é que estou feliz de ter ultrapassado todo o desconforto inicial (que agora não me pergunto se não foi um artificio proposital do diretor/produtor do anime) e de ter acompanhado essa história cheia de camadas, embora não todas elas bonitas de se ver.
       Recomendo se estiver afim de algo diferente, embora não garanta diversão, pelo contrário, o sentimento que tive foi quase sempre de angústia

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Já assistiu esse anime? O que achou? 

Ouvindo: Kingdom Come - The Civil Wars

Don't you fret my dear
It'll all be over soon
I'll be waiting here
For you...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ouvindo: Não aprendi dizer adeus - Dibob


Eu sei guardar a minha dor e apesar de tanto amor, vai ser melhor assim...
 
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