quarta-feira, 30 de julho de 2014

Considerações sobre Battlestar Galactica (Minissérie)


    Assisti aos dois primeiros episódios de Battlestar Galactica  a pouco tempo atrás, mais devido ao tédio das férias do que por algum tipo de paixão por sci-fi (muito pelo contrário mas falarei mais sobre isso em outro post). 

     Mesmo com episódios bem longos para uma série (na verdade os dois primeiros episódios compõe uma minissérie independente da série em si, por isso a duração de 1h30 por episódio) BS conseguiu me prender a atenção. A história de um futuro (e galáxia) distante em que os seres humanos estiveram em guerra contra maquinas que eles próprios criaram (os cylons) pode não ser muito incomum para o gênero mas conseguiu ser único a sua própria maneira e o resultado foi bastante satisfatório. 
      A começar pela abordagem: Quarenta anos se passaram desde que a guerra terminou e os cylons nunca mais foram vistos (acredita-se que tenham ido para outra galáxia). Mesmo assim, ano após ano, enviam à uma colonia espacial neutra um diplomata afim de se encontrar com o representante dos cylons. Nunca ninguém havia aparecido nos últimos quarenta anos mas isso está prestes a mudar
      O interessante é que, como tanto tempo se passou desde a guerra, a maioria das pessoas não se lembra (ou nem era nascida) quando o confronto ocorreu e nem parecem se importar tanto assim com o inimigo ter desaparecido. A Battlestar Galactica que dá nome a série é a ultima nave de guerra na ativa e funciona mais como um museu do que qualquer outra coisa. Com a iminente aposentadoria do Comandante Adama, até mesmo a Battlestar será desativada para sempre. 
       Nesse contexto, quando os primeiros ataques dos cylons acontecem, todos são pegos despreparados. Para "ajudar" os cylons conseguiram hackear o software que controla todas as naves dos humanos, portanto, mesmo aqueles que podem e resolvem atacar são "tirados da tomada" pelos cylons, que desligam as naves a distância. A BS é uma exceção pois não está conectada a rede. 
Evolução dos Cylons
       Como a série é de 2003 achei interessante as semelhanças entre a rede pela qual os cylons propagam seu vírus e que liga todos os computadores e a internet, que à época tinha levado diversos empresários a falência devido a uma bolha especulativa. Tanto na ficção quanto na realidade da época a internet é um canal pelo qual chega a destruição. Pesquisando um pouco, descobri que BS é na verdade um remake de uma série lançada originalmente em 1974. Isso explica o fato de que todos os personagens se atacam com bombas atômicas - um dos maiores temores durante a guerra fria era a utilização e explosões desse tipo de arma.
         Tais detalhes, propositais ou não, tornam Battlestar Galactica uma obra de ficção cientifica além das batalhes entre naves e explosões. Claro, essas também existem e são visualmente muito bonitas - mesmo que eu tenha cochilado um pouco quando aconteceu - mas não é tudo sobre a série. Há também dramas pessoais no meio desse universo apocalítico pois cada um dos personagens vive histórias e tormentos particulares. Temos pais e filhos que não se falam, temos a moça rebelde que perdeu o namorado, temos a mulher de negócios que está morrendo de câncer, o cientista ambicioso e em constante flerte com a loucura... Isso sem contar as tramas que se desenvolvem durante os episódios com personagens tendo que tomar decisões difíceis que matarão milhares de pessoas. 
          Mas meu aspecto favorito sobre a série diz respeito aos cylons. Depois que terminei a série, por coincidência, comecei a ler sobre 'Filosofia da mente' e me deparei com a seguinte pergunta: 
Se todos os componentes não-naturais que formam um robô são exatamente iguais aos componentes naturais que formam os seres humanos (e funcionam da mesma maneira) o que diferenciaria um robô de um ser humano? 
          Esse questionamento, retirado de um livro de filosofia, é a base de grande parte do enredo de BS e o que está por trás do plot twist do final do segundo episódio mas também de grande parte dos diálogos da série. Não escapa a minha observação que os únicos que se mostraram crentes em entidades superiores (Deuses) durante toda a série foram os cylons, enquanto os humanos eram todos racionais e científicos (como maquinas). Os cylons também tem capacidade de se relacionar com os outros embora o fato de que possam desenvolver sentimentos mais profundos ainda é questão de debate. Mas podemos ver que existem humanos capazes de tomar decisões com tanto sangue frio quanto as maquinas, mesmo sob nobre pretensões.
            Meu objetivo com esse texto não foi fazer uma resenha (ou review, como quiser chamar) sobre BS mas sim compartilhar com vocês algumas considerações que tive sobre a série e minha recomendação para que assistam, quer pelas batalhas interplanetárias quer pelas questões existenciais e dramas. Com certeza pretendo assistir a outros episódios mas agora com o fim das férias talvez não tenha tanto tempo para isso. Mesmo assim farei um esforço, nem que seja para descobrir onde conseguiram enredo para 4 temporadas. 

sábado, 5 de julho de 2014

Sobre Penny Dreadful (Ou: a série da moça com a pomba gira egípcia e seus amigos)



   Penny Dreadful é uma série americana que foi ao ar nesse ano, 2014. O nome, "Penny Dreaful" se refere a um tipo de literatura que era vendida no século 19 com o objetivo de assustar as pessoas que, por custarem 1 centavo (penny, na moeda inglesa), passaram a ser chamados dessa maneira (Uma tradução aproximada serie "centavos de terror". 

   Quis colocar essa informação pois ela revela muito sobre a série em si. Primeiro, que a mesma se passa no século 19 na Inglaterra, e segundo por se tratar de algum tipo de série de terror. Mas não um terror qualquer. 
     Logo no primeiro episódio somos apresentados a srta. Vanessa Yves e a sir Malcolm Murray que procuram o senhor Ethan Chandler e lhe oferecem dinheiro para que o mesmo participe de uma missão. No inicio é tudo muito confuso (e sanguinário) mas nos episódios seguintes ficamos sabendo que a missão é encontrar a filha de Sir Malcolm e melhor amiga de Vanessa, Mina, que foi sequestrada por uma criatura não humana. Para ajudá-los em sua busca, eles também contam com a ajuda do médico/legista dr. Victor Frankenstein e de outros personagens que vão aparecendo ao longo da história.  
      Mina? Frankenstein? Como eu disse, não é uma história de terror qualquer, mas sim uma história inspirada em personagens literários famosos à época. Além de referência (utilização de personagem e outras) à Drácula* e Frankenstein ainda temos a presença de um dos personagens mais falsamente amáveis e perigosos da literatura, Dorian Gray.
       Foi divertido no começo, tentar adivinhar se o personagem pertencia a algum livro antes que o nome do mesmo fosse dito mas, se você espera uma série inteiramente baseada em tais histórias é melhor tentar outra coisa. Os personagens são os mesmos mas muitas "liberdades" são tiradas de sua biografia e história, o que pode irritar os aficionados pelas obras em questão.
        No entanto, para mim, tanto os personagens 'emprestados' quanto os originais são bem interessantes. Vanessa, interpretada pela maluca da Eva Green, tem um mistério (maldição) sobre si que acaba ajudando na busca por Mina. Sir Malcolm sabe disso e utiliza essa habilidade para perseguir seu objetivo de encontrar a filha. Somente essa razão faz com que eles estejam em companhia um do outro pois, como vemos, se odeiam. No entanto, são dois personagens que tem muito em comum, não somente Mina: ambos são dominados pela culpa, ambos perderam entes queridos, ambos acham que merecem danação eterna por seus pecados. Ah, e claro: Ambos não hesitam em fazer o que for para atingir seus objetivos.
           Ethan, o 'capanga' contratado, no inicio parece ser o tipico capanga: Pouco cérebro e muitos tiros (e pancadas). Mas isso acaba também se revelando uma mascará bem articulada afim de esconder o verdadeiro segredo do personagem. Quando Ethan se apaixona por uma prostituta, também passamos a conhecer um personagem mais sensível, talvez o único da série a ter um pouco de consciência e ser o que se chamam de "mocinho". O restante tem muitas camadas para receberem qualquer rótulo. 
            Assisti Penny Dreadful nas férias, vi os 8 episódios da primeira temporada todos em 1 semana. O primeiro episódio é realmente parado mas depois acabei ficando curiosa com a trama e fui assistindo. Como todas as séries da Showtime, essa também tem uma quantidade saudável de erotismo e nudez, não sendo à toa portanto a HBO a detentora dos direitos de veiculação no Brasil - que outro canal passaria nudez ou cenas de sexo em (quase) todos os episódios?  O diretor é Sam Mendes, que já dirigiu filmes como Beleza Americana e 007 - Skyfall o que talvez tenha influenciado uma certa uma menor utilização desse tipo de fanservice, quando comparada a outras series da Showtime e HBO. 
           Fui assistindo e me impressionando com os cenários, figurinos, diálogo com referências a Shakespeare e outros poetas e atuações que vão de razoáveis a muito boas. Embora os primeiros episódios tivessem me empolgado mais (direito a gritos de: EU SABIA! EU SABIA!) o restante passa uma atmosfera de suspense que é muito intrigante e me fez assistir ao restante. Aliás outra dica: Não espere muito sustos ou realmente passar medo com Penny Dreadful. Trata-se de um suspense eficiente e chega a ter seus picos de ação mas o desenvolvimento até lá é o foco, não a ação em si. 
            Quando disse que os diálogos estão repletos de Shakespeare (entre outros), acabei deixando de lado que algumas falas, embora não retiradas de algum livro de poesias, contem em seu núcleo uma certa dose de metáforas e profundidade digna de uma obra teatral, não de uma série. Isso até poderia ser um tanto maçante se os momentos de 'divagação' dos personagens não fossem pertinentes a trama. Algo que admiro no autor do texto de Penny Dreadful é sua capacidade de dar profundidade a todos os personagens do texto, sem fazer com que eles pareçam piegas ao expressão suas dúvidas e incertezas.
             Talvez esses diálogos tão profundos e elaborados foram o que me fez ter uma ilusão equivocada de que conhecia as motivações dos personagens. Como vi, os personagens (assim como seres humanos) vão além das palavras e são capazes de pregar veementemente uma coisa num momento e fazer outra completamente no seguinte. Todos parecem um tanto perdidos, dizendo algo num momento, mudando de ideia, retornando ao pensamento original, só para depois fazer algo que se difere a tudo o que foi dito (divagado) antes.  
            Pode ser que essa insconstância dos personagens, essa fala de certeza e previsibilidade, seja uma atitude proposital do roteiro, afim de dar um ar de humanidade a eles - afinal, é da raça humana dizer uma coisa e em seguida mudar de ideia. Mas essas mudanças na personalidade são tão bruscas e intensas que só podem ser comparadas a uma pessoa que tem sindrome Borderline por que não é possível alguém oscilar tanto e tão rápido na vida real. Isso me incomodou durante a série, tornando impossível pra mim realmente gostar de algum personagem, embora (obviamente?) estivesse torcendo por Vanessa na maioria das vezes.
          Ethan é aquele que menos gostei, pois parece ser o ápice de todas aquelas atitudes dúbias de personagem. Josh Harnett não faz sua melhor interpretação mas nem posso culpá-lo já que parecia interpretar um personagem diferente a cada episódio. Dorian Gray, o sacana com carinha de anjo, começou muito bem mas no ultimo episódio ficou mais como um jovenzinho de coração partido do que o Don Juan indiferente que é. Não ajuda que o diretor tenha optado por não contar a história de Dorian, preferindo apenas fazer alusões ao quadro que prendia a alma do personagem, em diálogos ou em cenas em que Dorian entra em sua 'passagem secreta', onde o quadro estava escondido. O diretor apostou que não há quem conheça essa história e deixou para o público preencher as lacunas. Uma pena pois senti falta da crueldade do personagem e da sua indiferença para os demais. Pelo o que foi mostrado, se tivessem trocado o personagem de Oscar Wilde por qualquer dândi do século 19, o resultado seria o mesmo
           O título do post faz referência a outro aspecto que série que não citei: Sim, também há mitologia egípcia, embora não seja o foco, pois só são utilizados algumas referências dessa mitologia para a construção de um provável apocalipse e como Vanessa tem participação nele (sim, a moça da pomba gira)
           Mas enfim, a segunda temporada de Penny Dreadful foi confirmada, espero que tenhamos mais desenvolvimento de personagens então. Quanto ao enredo, espero que os autores consigam arcos mais interessantes que somente a possibilidade de um apocalipse demoníaco. Por mais que as cenas de exorcismo sejam divertidas, não dá para manter uma série só com elas**. 
           Uma série boa, que pretendo continuar assistindo na segunda temporada e espero que novos personagens e intrigas surjam e novas respostas sejam dadas. Vamos aguardar pra ver


* Drácula, drácula, onde está você? Uma coisa sobre essa série é que os "mestres" vampiros parecem monstrinhos saídos do Resident Evil. É ridículo pois pressupõe que os mesmos tenham que viver permanente escondidos quando, se não me fale a memória, os vampiros de Bram Stoker podiam se passar por seres humanos normais e não ficavam dormindo o tempo todo. Aliás, uma das minhas esperanças para a segunda temporada é a de que (SPOILER) aquela criatura do ultimo episódio não seja o verdadeiro mestre de Mina e, portanto, o verdadeiro conde Drácula ainda não tenha aparecido. 
**Sobre a cena do "exorcismo"(não foi bem um exorcismo, por isso aspas). Ponto positivo: Senti uma referência ao filme "O exorcista" na cena final do episódio 7. Ponto negativo: (SPOILER) onde Ethan aprendeu a falar latim?!

 
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