“I don’t care if it hurts/I wanna have control/I wanna a perfect body/I wanna a perfect soul.” Creep – Radiohead
Esse filme já foi resenhado milhares de vezes (muitas mesmo). Eu, por exemplo, já li muitas resenhas de Cisne Negro em blogs e afins. Algumas muito boas, com bons argumentos e outras nem tanto.
Mas o que essa resenha vai acrescentar às outras. Eu acho que apenas uma coisa: Eu vi esse filme com olhos diferentes, pois assisti um dia depois de Natalie Portman ter ganhado o Oscar 2011 de melhor atriz (para ler o post completo sobre o Oscar clique AQUI). Então, ao assistir o filme, prestei uma atenção redobrada à Natalie, tentado checar se a atuação dela foi tudo isso mesmo.
Além disso, como todas as resenhas que eu li foram ou de amor ou de ódio estava também preparada para amar ou odiar o filme. E, se for para escolher entre esses dois extremos, eu prefiro dizer que amei Cisne Negro.
Bom, por onde começar?
Nina é uma jovem de 28 anos que ainda mora com a mãe. Ela dança numa companhia de balé e sonha em ter algum papel de destaque, já que tem se esforçado muito para isso. Coloque também em conta, o fato da mãe de Nina ser uma ex bailarina que apostou todos os anseios de sucesso que não teve em sua única filha.
Vem então a oportunidade de estrelar em “O lago dos cisnes” sendo, ao mesmo tempo, o cisne branco (com toda a sua pureza e inocência) e o cisne negro (pérfido e sensual). Mas Nina tem dificuldade em ser o Cisne Negro, pois é praticamente a personificação do cisne branco: Doce, meiga, meio infantil. Desperta a ternura e não a paixão. Pelo menos é isso o que Thomas Leroy, o diretor artístico (interpretado muito bem por Vicent Cassel) pensa sobre ela.
Mas Leroy ainda vê certo potencial na bailarina e começa a treiná-la para ser tanto o cisne branco quanto o negro. E é ai que começa o filme.
Nina começa a se perder e pouco a pouco abandona a antiga atitude. O processo é sutil e um pouco surrealista mas não menos impressionante.
Com o passar do filme, vamos ficando cada vez mais tensos, tamanho é o suspense psicológico. Nada é escancarado, nada é vulgar (nem mesmo as cenas de sexo). Tudo tem um propósito no filme e, afinal, o que aconteceu de fato?
Tenho que comentar que a trilha sonora desse filme é fantástica! Ela está ali o tempo todo e se encaixa com maestria no roteiro. Agora você me pergunta: Por que essa trilha perfeita não concorreu ao Oscar? Por que a academia a excluiu da seleção, sob o argumento de que era baseada no balé de Tchaikovsky, portanto, não original como eles queriam.
Mas o que eles querem dizer com original?Todos os compositores tiveram suas bases para compor isso é certo. Se nesse filme as bases foram mais evidentes é por que assim teve que ser, já que o filme inteiro é baseado em um balé. Mesmo assim, o compositor (seja lá qual for o seu nome) conseguir levar toda a tensão do filme para as músicas. Garanto que jamais foi ouvir o tema principal de “O lago dos cisnes” com os mesmo olhos. Nem com a mesma inocência.
Apesar dos outros personagens na história e de todos serem razoavelmente bem trabalhados, o filme é de Nina. Se no balé de Tchaikovsky papéis principais tão opostos (cisne branco e negro) pertencem a uma única solista, no filme quem sola é Natalie que se divide entre duas facetas de sua personagem de maneira admirável, fantástica. Os outros estão ali e cumprem um papel, mas giram como satélites ao redor dela. Isso durante o filme inteiro.
Nós espectadores, também não somos exceção. Vemos o que Nina vê e acabamos entrando nessa “viagem” sombria junto com ela. Agora entendo por que muita gente diz que o filme é perturbador: Ele flerta com tabus e com a loucura. Desperta sentimentos fortes mesmo.
Agora você me pergunta: Tudo isso por causa de um papel num balé? Claro que não. Nina já tinha problemas antes, dentro e fora de si mesma. O papel mais importante no balé foi uma espécie de gatilho para a saída de tudo o que, afinal de contas, já estava mesmo lá. O cisne negro já estava em Nina, da mesma maneira que está em todos nós.
Nesse momento deve ter muita gente que viu o filme achando que eu sou louca ou pronta para comentar que não tem dentro de si Cisne Negro nenhum. Pois eu digo: É claro que tem, todos nós temos um lado mais sombrio, mais maldoso. Ou vão me dizer agora que querem ser PERFEITOS? Quem viu o filme sabe que essa palavra é uma das raízes de todo o mal que acontece. A busca pela perfeição, dentro e fora dos palcos, faz Nina trilhar caminhos que só são perigosos porque “cresceram” na ignorância. Não sou psicóloga, nem filósofa, mas acho que “conhece-te a ti mesmo” ainda é o melhor conselho. Devemos conhecer a nós mesmos para não sermos surpreendidos.
Ok, chega de bancar a filosofa! A verdade é que esse filme é de uma complexidade psicológica fascinante. Eu realmente queria ter um amigo psicólogo para discutir esse filme comigo. Aliás, nem precisava ser psicólogo. Estou tentando fazer todos os meus amigos assistirem ao filme só para poder trocar figurinhas (fiz o mesmo com “A Origem”. Gosto de debater sobre filmes que me chamam a atenção).
Só para terminar, a frase do começo do post é uma música do Radiohead. Para quem não entende inglês (e nem quis jogar no Google tradutor para ver o que era), quer dizer: “Eu não ligo se isso machuca/Eu quero ter o controle/ Eu quero um corpo perfeito/Eu quero uma alma perfeita.”
Esse trecho me veio na cabeça algumas horas depois de assistir ao filme. Acho que tem tudo a ver com a história.
Agora eu pergunto para os que agüentaram ler essa resenha enoorme até o final: Natalie Portman mereceu o Oscar ou não? O que vocês acham? Vamos comentar! =)
P.S.: Essa resenha foi publicada, numa versão mais curta, no meu blog sobre literatura. Para ler a outra versão clique aqui